Síndrome cólica em potros por compactação de mecônio


Introdução
A síndrome cólica é a principal causa de mortalidade em equinos. Isso se deve a diversos fatores anatômicos e fisiológicos, dentre eles: o estreitamento de partes do intestino grosso, flexuras no cólon (esternal, pélvica e diafragmática), fator este que pré-dispõe a obstrução de transito intestinal culminando na redução da motilidade, ou seja, o trânsito do bolo alimentar fica comprometido, gerando desconforto abdominal, levando à síndrome da cólica, porém a mesma possui inúmeras etiologias, sendo esses fatores citados anteriormente, apenas agravantes.
Durante a vida fetal, os equinos, assim como as demais espécies, apresentam resíduos metabólicos que não foram eliminados pelo úraco.  Desse modo, ocorre deposição desses compostos no intestino do feto. Denomina-se mecônio as primeiras fezes do potro neonato, de coloração escura, verde amarronzada, e consistência firme e pegajosa (WILSON, 1987), que devem ser eliminadas após o nascimento em até 12 horas após o parto (DIAS, 2012). O mecônio é formado por secreções glandulares do trato gastrointestinal (TGI), fluido amniótico e debris celulares. O estimulo à defecação é obtido com o reflexo da amamentação, que promove aumento na motilidade gastrintestinal. Quando não há a excreção dessas fezes, isso implica em diversos problemas, sendo a causa mais comum da síndrome cólica em potros (WILSON, 1987). A compactação por mecônio localiza-se mais comumente no reto e cólon menor distal, ocasionalmente ocorrendo no cólon menor proximal ou cólon maior (COHEN & CHAFFIN, 1994).  Assim como nos equinos adultos, a síndrome cólica em potros neonatos e lactentes assume posição de destaque entre as patologias do trato digestivo (SILVA,1995).
A avaliação da sintomatologia clinica é bastante complicada em neonatos, tendo em vista que, pelas restrições do animal, durante o exame clinico não é possível utilizar todas as ferramentas semióticas convencionais como, por exemplo, a palpação, devido à fragilidade da parede intestinal e seu pequeno diâmetro, dificultando o diagnóstico. O clínico deve utilizar, então, de outros métodos semióticos, exames ultrassonográficos e radiografia abdominal para concluir a suspeita clinica. Desse modo, uma anamnese bem feita é fundamental para chegar a um diagnóstico clínico e iniciar o tratamento precoce, para que se obtenha uma resposta positiva por parte do animal.

Sinais Clínicos
·         Manifestação de dor abdominal
·         Olhar para o flanco
·         Rolamento no chão
·         Distensão abdominal
·         Aumento da frequência cardiorrespiratória
·         Hipertermia (Febre)
·         Decúbito esterna/ lateral
·         Polaquiúria (necessidade de urinar muitas vezes e em pequenas quantidades)
·         Presença de síbalas firmes no reto
·         Tenesmo (mímica de defecação)
·         Cauda erguida
·         Redução na frequência de mamadas

 
Diagnóstico
O diagnostico baseia-se na anamnese, tendo como principal fator a ser levado em consideração o relato do proprietário (ausência de defecação no período máximo 12 horas pós parto, apresenta mimica de defecação, dor, etc). Além disso, identificação de síbalas endurecidas na ampola retal através de exame digital retal, radiografia e ultrassonografia abdominal (WILSON, 1987). Juntando esses fatores, pode-se fechar o diagnóstico clinico.

Tratamento
A maioria das alterações gastrintestinais pode ser tratada clinicamente, com pequeno número de potros (menos de 1%) necessitando de intervenção cirúrgica (SEMRAD & SHAFTOE, 1992). O tratamento varia de acordo com o caso. Inicialmente pode-se utilizar enema comercial ou preparo de uma solução à base de água morna e óleo mineral para lubrificar a ampola retal e umedecer as fezes. A solução deve ser aplicada através de um cateter urinário ou sonda nasogástrica para potros. A retirada das massas fecais pode ser realizada manualmente ou com uso do fórceps (SILVA, 1995). Como terapia adicional, pode-se utilizar administração oral de 100 ml de óleo mineral a cada 12 horas (WILSON, 1987). Fluidoterapia e analgésicos ficam a critério do medico veterinário.
Obs: A aplicação de enema só deve ser realizada por um medico veterinário habilitado para tal procedimento. O uso dessa ferramenta deve ser executado com cautela devido à fragilidade da parede intestinal, desse modo evitando-se lacerações.

Conclusão
Conclui-se que a fase neonatal do equino é um período crítico de vida, onde o mesmo necessita de cuidados redobrados para que consiga atravessar esse período com êxito. Devido à evolução rápida do quadro do lactante, que desidrata e entra no quadro de hipoglicemia com maior rapidez pois não mama devido à dor, faz-se necessário o diagnóstico e o tratamento precoce. A assistência médico veterinária é de suma importância a fim de realizar medidas profiláticas e curativas das eventuais patologias que possam acometer o potro em sua fase inicial de vida; desse modo elevando os índices produtivos, longevidade e bem-estar animal proporcionando ao potro chegar à vida adulta com saúde.

Referências Bibliográficas
COHEN, N.D.; CHAFFIN, M.K. Causes of diarrhea and enteritis in foals.Compendium on Continuing education for in Practicing Veterinary, Trenton, v. 17, n. 4, p. 568-574, 1995.
DIAS, D.C.R., Principais causas de mortalidade em potros. Disponível em: http://www.abccpe.com.br/artigos_2012-07-22-motalidade-potros.php.
SEMRAD, S.D.; SHAFTOE, S. Gastrointestinal diseases of the neonate foal. In: ROBINSON, N. E. (Ed.). Current therapy in equine medicine. 3 ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 1992. p. 445-455.
SILVA, L.C.L.C., Guia de neonatologia equina, p.91-100, 1995.
THOMASSIAN, A. Afecções do potro neonato: retenção de mecônio. In: Enfermidades dos cavalos. 2 ed.São Paulo: Livraria Varela, 1990. p.9.
WILSON, J. H. Gastrointestinal problems in foal. In:ROBINSON, N. E. Current therapy in equine medicine. 2 ed. Phyladelphya: W.B. Saunders Company, 1987. p.232-241.
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Autor Unknown

GEMEQ - Grupo de Estudos em Medicina Equina da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) - Sede Dois Irmãos .

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